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quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Liberdade, Igualdade, Fraternidade?

Paulatinamente, o caminho do securitarismo vai fazendo o seu percurso, com François Hollande a fazer lembrar George W. Bush e o seu Patriot Act após o 11 de Setembro. E assim, Schengen vai caminhando para o estertor, os refugiados passam a terroristas à espera de uma oportunidade e trata-se ao nível de fronteiras o que devia ser resolvido na periferia de Paris.
O cinismo reinante vai ao ponto de, sem discussão nem debate nos parlamentos nacionais, se concordar com o accioname...
nto de uma cláusula do Tratado de Lisboa sobre defesa- numa União que até agora não tem política de defesa que se veja- e o primeiro ministro francês, Manuel Vals, anunciar olimpicamente que a França não cumprirá o Pacto de Estabilidade mantendo o défice abaixo de 3%, pois tem de se preparar para a guerra contra o Daesh e fazer despesas com armamento e pessoal.
Tudo isto dá que pensar, até porque está a ser decidido a quente, e qual reflexo de Pavlov, disparando-se em todos os sentidos quando o alvo está logo ali ao lado. Então com os gregos e os portugueses e as suas hordas de emigrados e desempregados, vítimas dos tratados inexpugnáveis não podia haver contemplações com o défice, mas para armar a França e lançá-la nas areias da Síria já se podem alterar as regras em 24 horas, sem debate ou votação? Então se um país como Portugal invocar o artº 42º do Tratado de Lisboa e declarar guerra a um terceiro Estado, pode ficar aliviado das obrigações que tanto infernizam a vida dos contribuintes e dos cidadãos em geral?
É bonito cantar a Marselhesa, depositar flores e iluminar os monumentos com as cores da pátria gaulesa, mas não esqueçamos que um dos lemas dessa pátria, farol das liberdades, foi precisamente o da Igualdade, e que no caso concreto assim actuando demonstra a EU tudo menos Fraternidade, pelo menos para com os mais pequenos. Será só em nome da Liberdade?

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Documentário sobre Tomé de Barros Queiróz no MU.SA- 12 de Fevereiro

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A Animacroma Filmes e a Alagamares promovem no dia 12 de Fevereiro pelas 18h, no MU.SA- antigo Casino e Centro de Arte Moderna, perto do Centro Cultural Olga Cadaval, a apresentação e projecção do filme de Miguel Ferraz, “Barros Queirós, uma figura moral da República”. Com a duração de 50 minutos, o filme conta com depoimentos de Mário Soares, Guilherme d’Oliveira Martins, Nogueira Leite e Carlos Manique, entre outros.
Foi Tomé de Barros Queiróz quem em 5 de Outubro de 1910 proclamou a República nos Paços do Concelho de Sintra, e aí manteve residência e intervindo na vida local, tendo sido igualmente deputado constituinte pelo círculo eleitoral onde à época Sintra se incluía.
Entrada Livre.
QUEM FOI TOMÉ DE BARROS QUEIRÓZ
Em Sintra, a 5 de Outubro de 1910, o directório do Partido Republicano Português designou Tomé de Barros Queiróz, figura de destaque na época e ligado a Sintra, onde tinha um chalet, para proceder à sua proclamação solene. Barros Queiróz havia chegado a Sintra em meados de Setembro, vindo de férias nas termas, e aqui recebeu a notícia da morte de um dos chefes da revolta, o Dr. Miguel Bombarda. Confirmado o sucesso do movimento militar, Barros Queiróz foi  convidado pelo PRP para proclamar a República em nome da Junta Revolucionária, tendo sido designados para o acompanhar nesse momento histórico o jornalista João Chagas,  bem como José Barbosa e Malva do Vale. Foi assim que um grupo de apoiantes do novo regime se concentrou junto com Barros Queiróz num local onde hoje fica a Praça Afonso de Albuquerque para esperar os outros enviados do PRP. Alguns deles, armados, inclusive já desde alguns dias guardavam residências de políticos e figuras destacadas do regime monárquico, entre as quais a de João Franco, que veraneava em Sintra com a família real, e que tinha sido um dos protagonistas do odiado governo que em 1908 custou a vida ao rei D.Carlos, e que agora, paradoxalmente, era protegido na sua pessoa e bens pelos revolucionários, para evitar pilhagens e actos de vandalismo. Entre os que protegeram João Franco em Sintra contava-se o filho de Barros Queirós, Daniel, com 19 anos na altura, sendo que João Franco, apesar do reviralho que se adivinhava, mandou servir comida e café aqueles que se preparavam para alterar o regime que ele servira.
Estavam os populares reunidos quando chega um dos poucos carros que havia naquele tempo, ostentando uma bandeira verde rubra, ao que os populares responderam com vivas à República. Nessa viatura vinha uma eufórica senhora de apelido Quaresma Val do Rio Barreto.Passado um tempo, uma outra viatura, aberta, transportava duas figuras vestidas de escuro . Eram a rainha D.Amélia e uma camarista, que vindas da Pena, se dirigiam a Mafra a juntar-se ao deposto rei D.Manuel, de onde partiriam posteriormente em direcção a Inglaterra. Barros Queiróz, reconhecendo a rainha, tirou o seu chapéu, e silenciando os vivas à República, saudou com cortesia a real figura, no que foi acompanhado pelos demais. Revoluções à portuguesa, dirão alguns…
Finalmente chegou o grupo vindo de Lisboa, e todos se dirigiram à varanda dos Paços do Concelho (os actuais, que haviam sido inaugurados um ano antes, em 1909, e proclamaram solenemente a República Portuguesa, tendo na altura sido anunciados Formigal de Morais como presidente da Câmara Municipal de Sintra e Gregório Casimiro Ribeiro como administrador do concelho. Todo o dia foi de festa em Sintra, tendo uma banda de música percorrido a vila em clima de euforia júbilo.
Tomé de Barros Queiróz foi deputado, Ministro das Finanças, Ministro da Instrução Pública e Presidente do Conselho de Ministros e membro da Maçonaria. Nascido em Quintãs, Ílhavo, filho de modestos lavradores, veio muito cedo para Lisboa, começando a trabalhar aos 8 anos como caixeiro numa casa comercial. Apenas na década de 1890 conseguiu matricular-se na Escola Elementar de Comércio de Lisboa. Em 1888 tornou-se militante do Partido Republicano Português, ascendendo rapidamente a lugares cimeiros na direcção daquele partido. Envolvido nas lutas operárias, foi um dos promotores da criação da Associação dos Caixeiros Nocturnos de Lisboa, ligando-se por essa via à imprensa, sendo fundador de A Voz do Caixeiro e colaborando no periódico O Caixeiro.
Eleito em listas republicanas foi, entre 1908 e 1911, presidente da Junta de Freguesia de Santa Justa e vereador da Câmara Municipal de Lisboa. Como referido, foi ele quem proclamou a República em Sintra em 5 de Outubro de 1910.Representou Sintra na Assembleia Constituinte que elaborou a Constituição de 1911, ao ser eleito deputado por Torres Vedras nas primeiras eleições após o 5 de Outubro, pois esse círculo englobava Torres Vedras, Lourinhã, Sintra e Cascais, entre outros locais, tendo obtido 7609 votos.
Com a cisão do Partido Republicano Português após a proclamação da República Portuguesa, integrou o Partido Unionista, onde militou entre 1911 e 1919. Foi também secretário-geral e director-geral da Fazenda Pública, cargo em que foi o principal autor da reforma tributária de 1911. Como deputado por Torres Vedras, no mandato de 1911 a 1915, foi escolhido para vice-presidente da Câmara dos Deputados, apresentando então um parecer, à época considerado excepcional, sobre a Lei de Meios de 1912-1913 (o orçamento do Estado à altura).
Em 1912 iniciou-se na Maçonaria, na loja Acácia, de Lisboa, adoptando o nome simbólico de Garibaldi.
Na sequência da revolução de 14 de Maio de 1915, aceita o lugar de Ministro das Finanças, cargo que exerceu até 18 de Junho de 1916.
Mantendo-se na actividade política, já em período de degenerescência da Primeira República voltou ao Governo no período entre 24 de Maio e 30 de Agosto de 1921, como presidente do Conselho de Ministros (o título do Primeiro Ministro da época), acumulando com a sua antiga pasta das Finanças. O seu curto mandato à frente do governo português ficou marcado pela profunda crise financeira do Estado e por uma tentativa desesperada de recorrer ao crédito externo, através da contracção de um empréstimo de 50 milhões de dólares na América. Este empréstimo, anunciado como salvador pelo líder republicano Afonso Costa, acabou por não se materializar. Em 1922 foi eleito deputado pelo círculo açoriano da Horta, reingressando nesse mesmo ano pelo círculo de Lisboa, mantendo-se no parlamento até 1924. A partir de 1923 passou a militar no Partido Nacionalista. Faleceu em Lisboa a 5 de Maio de 1926, já em pleno ano final da Primeira República Portuguesa de que fora um dos fundadores.
A ligação de Tomé de Barros Queiróz a Sintra vinha já de antes do 5 de Outubro, pois aqui adquiriu um chalet na antiga avenida Alda, no final da actual Av. Heliodoro Salgado, onde tinha por vizinho Henrique Santana, pai do grande actor Vasco Santana, que contava na altura 12 anos, e vivia com uma senhora espanhola chamada D.Pepa. Sendo a casa de Barros Queiróz de 6 divisões e a de Henrique Santana de 12, e tendo Barros Queiróz 4 filhos, fizeram uma permuta de casas, instalando-se Barros Queiróz no popularmente designado “Chalet Nabo” pela forma de nabo em que terminava a cúpula aí construída precedida duma escada de caracol. Nesse local se realizaram muitas tertúlias e encontros.Em 1913, sendo Estevão de Vasconcelos Ministro do Fomento, intercedeu Barros Queiroz para o arranjo urbanístico do local onde hoje está o jardim da Correnteza.
Depois da sua morte, em Maio de 1925,a Câmara Municipal de Sintra presidida pelo então presidente da Comissão Administrativa, capitão Craveiro Lopes (futuro Presidente da República) inaugurou uma rua com o seu nome, no 5 de Outubro de 1926,cerimónia que contou com muitos vultos nacionais bem como locais, dos quais se destacavam o dr.Virgílio Horta e Eduardo Frutuoso Gaio. Uma coincidência haveria de ocorrer mais tarde durante a recuperação urbanística da Correnteza que ele em 1913 preconizara: os candeeiros de iluminação pública aí ainda hoje existentes, viriam a ser adquiridos numa loja da família Barros Queiroz no Largo de S.Domingos, em Lisboa. Pode pois dizer-se que por diversas formas, a Correnteza é a Correnteza de Barros Queiróz.
O AUTOR
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Miguel Ferraz nasceu em Lisboa, a 30 de maio de 1960, e é licenciado em Sociologia pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). Desde 1987 a sua actividade profissional tem estado ligada ao mundo do espectáculo, da rádio e da televisão. Foi produtor executivo dos eventos musicais da Discoteca Loucuras (1987/89) e assistente de produção nos concertos de Pablo Milanés (Coliseu de Lisboa, 1987) e dos Trovante (Campo Pequeno,1988 – Coliseus, 1991). Como radialista exerceu as funções de animador de antena e foi autor e produtor de programas, tendo passado pela Rádio Paris-Lisboa (RPL), Rádio Energia (Grupo TSF), Antena 1 e Rádio Renascença. Destacam-se as entrevistas com Amália Rodrigues, Agostinho da Silva e Carlos Paredes, e a produção do programa “Putos nos iiS” (Rádio Energia), nomeado para os prémios “Setes de Ouro / 1993”. Foi produtor de espectáculos de teatro humorístico e das respectivas tournées nacionais (1996/2001). Estreou-se em televisão como assistente de produção do talk-show “Joaquim Letria”, do Canal 2 da RTP (1990/91), tendo sido também produtor e co-autor de séries de entretenimento e humor na RTP 1 e na SIC (1992/2004). Na última década tem-se dedicado às temáticas do Mar e do Ambiente, produzindo reportagens / documentários para os programas “SOS Terra” (RTP 1), “Bombordo” e “Sociedade Civil” (RTP 2). De salientar a reportagem que realizou em Bruxelas sobre a Green Week/2004.A produção e co-autoria de “Em Nome da Terra – Vida e Obra do Arq. Gonçalo Ribeiro Telles”, trabalho distinguido com o Prémio Polis do 15º Festival Internacional Cine-Eco/2009, marca o início de uma nova etapa dedicada aos documentários de cariz histórico, tendo-se estreado recentemente como guionista em “Alba, Uma Marca
ao Serviço da Comunidade” e “Barros Queiroz, Uma Figura Moral da República”, de que também é autor e produtor. Integrou o Secretariado do Conselho de Acompanhamento do Canal 2 da RTP (2004/06). É membro cooperador da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), na qual está inscrito desde 1994.

Tertúlia poética a 26 de Fevereiro

Depois de no passado dia 15 de Janeiro se terem retomado as tertúlias dos Meninos d'Avó, por ocasião dos 10 anos do seu início, e interrompidas em 2007, nova tertúlia se voltará a reunir no próximo dia 26, no Legendary Café, Sintra, precedida de jantar literário, pelas 20h,sujeito a inscrição, e com o custo global de 9 euros, e envolvendo a partir das 23h um happening poético com a presença de dois poetas convidados: Fernando Grade e Hugo Beja. O público que queira participar com leitura de poemas ou textos poderá fazê-lo aparecendo no local e data. Organização das associações Caminho Sentido e Alagamares.

Morada:Rua Dr. Alfredo da Costa 8 R/c, Sintra, Telf. 21 9243825
Reservas até 48h. antes do evento para os contactos: jornalselene@gmail.com ou 962355891
Apoios: Legendary Café, Mercado Central de Janas
Parcerias: Quinta dos 7 Nomes, Adega Regional de Colares, Pó de Arroz Handmakers
ENTRADA
COGUMELOS À ITALIANA
Cogumelos frescos, dentes de alho, toucinho, orégãos, folhas de manjericão fresco, noz-moscada, sal, azeite.
Lave bem os cogumelos e corte-os em lâminas. Corte o toucinho em quadrados pequenos e pique os alhos. Frite os cogumelos em azeite, alho e toucinho durante 5 minutos. Adicione os orégãos, uma pitada de pimenta e noz-moscada, manjericão e sal. Deixe ao lume até os cogumelos soltarem o caldo.
“… - Oh! Minha querida – retoma Adolphe vendo o rosto da sua casta esposa tornar-se amarelo e afinar-se – em França chamamos a este prato cogumelos à italiana, à provençal, à bordalesa. Picam-se os cogumelos, fritam-se em óleo com alguns ingredientes cujos nomes agora não me recordo. Coloca-se um pouco de alho, creio…”
Petites misères de la vie conjugale, HONORÉ DE BALZAC, traduzido por Sandra Silva.
PRATO PRINCIPAL
PESCADA COM CAMARÕES
Pescada, vinho branco, funcho fresco, sal; o molho é com courgette, camarões pequenos, natas, dentes de alho, manteiga; o acompanhamento é de legumes e batata cozida de origem biológica.
Coza o peixe em água com sal, funcho fresco e vinho branco. À parte, frite ligeiramente a courgette cortada às tiras na manteiga com os alhos picados. Acrescente o caldo da cozedura do peixe e dos camarões. Deixe ferver durante 10 minutos. Acrescente as natas e misture bem. Retire as espinhas ao peixe e envolva-o com o molho. Acompanhe com batatas cozidas.
“… Ah, cozinheira, olhas para mim, enquanto eu com a espátula vou separando a carne delicada: docilmente separa-se da espinha e quer ser recordada, Agnes, ser recordada”.
O Linguado, GUNTER GRASS, traduzido por Veronika Siebelist de Vasconcelos.
SOBREMESA
MAÇÃ REINETA CONFITADA
VINHO
VINTO TINTO DA REGIÃO DE COLARES

O Islão e o Ocidente em debate 21 de Fevereiro no MU.SA

 



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No dia 21 de Fevereiro pelas 15h30m a Alagamares-Associação Cultural promove no MU.SA-Museu das Artes de Sintra, um debate subordinado ao tema “O Islão e o Ocidente”, visando reflectir sobre a envolvência política, cultural e civilizacional desta realidade.
É o Islão uma ameaça e a Democracia como a compreendemos incompatível com a fé islâmica? Estão os crentes no Islão “reféns” do extremismo terrorista? Devem existir limites para a liberdade de expressão ou esta deve ser tomada como um valor absoluto? Que fazer, sem colocar em causa a liberdade de circulação, os direitos humanos? Como convivem entre nós os seguidores do Islão?
Ciente da actualidade e premência deste tema, e com base numa proposta do sociólogo António Luís Lopes, entendeu a Alagamares organizar um debate, durante o qual, entre outros, intervirão:
BASÍLIO HORTA, PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE SINTRA
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JOSÉ MANUEL ANES, PROFESSOR UNIVERSITÁRIO, DOUTORADO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL
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JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS, JORNALISTA

ANA GOMES, JURISTA E DIPLOMATA, EURODEPUTADA ELEITA PELO PS


MAMADY SISSÉ, PRESIDENTE DA COMUNIDADE ISLÂMICA DA TAPADA DAS MERCÊS
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SAOUD ELTAYRY, CONSELHEIRO DA EMBAIXADA DA LÍBIA EM LISBOA
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MODERADOR-CARLOS VARGAS, JORNALISTA
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Entrada Livre

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Por um novo Instituto de Sintra


Na literatura e cultura portuguesas Sintra aparece com frequência na pena de poetas, estudiosos e visitantes. Já Camões dela fala em Os Lusíadas (Já a vista, pouco e pouco, se desterra/Daqueles pátrios montes, que ficavam/Ficava o caro Tejo e a fresca serra/De Sintra, e nela os olhos se alongavam/ Ficava-nos também na amada terra/O coração, que as mágoas lá deixavam/E já despois que toda se escondeu/ Não vimos mais, enfim, que mar e céu) e também Francisco de Holanda, Crisfal, Luísa Sigêa, Gil Vicente ou Sá de Miranda se mostraram atraídos pela sua serra lunar. É porém no período romântico que por influência dos poetas do lago e sob influência de viajantes como Beckford, Byron, Hans C. Andersen ou Lady Jackson que Sintra irrompe como local incontornável, e a prová-lo, as obras de Gomes de Amorim, Almeida Garrett, Eça de Queirós ou Castilho. E no século XX, Almada e Pessoa, Nunes Claro, Oliva Guerra, Francisco Costa, M. S. Lourenço. E vivos ainda, Maria Almira Medina, Liberto Cruz, Miguel Real, Sérgio Luís Carvalho, Filomena Marona Beja, Jorge Telles Menezes, Raquel Ochoa.

Pode dizer-se que a presença de Sintra nestes autores é muitas vezes incidental: meras sete linhas no Child Harold’s Pilgrimage de Byron ou umas frases soltas em Andersen, um percurso de Chevrolet em Pessoa ou os olhos de um gigante em Almada, o Lawrence e as pipas de Colares no Eça, a introspecção de sentimentos em Francisco Costa, Maria Almira ou Nunes Claro. Mas também na Casa Branca de Jorge Menezes, nos seus Novelos de Sintra, na chegada a Lisboa, avistando a Roca, do Julinho de A Voz da Terra de Miguel Real, no Anno Domini 1348 e os dramas do tabelião João Lourenço, de Sérgio Luís Carvalho, nos dramas sociais na Messa de finais do século XX de Bute daí Zé! de Filomena Marona Beja. Será isto suficiente para assinalar a existência de uma literatura de Sintra, ou serão afinal meros apontamentos de Sintra na literatura?

Em Sintra, a literatura é sobretudo apologética de um espaço cénico predominante, seja para lhe exaltar a paisagem, as plantas, as lendas e mistérios, seja como complemento de histórias com outras geografias, local para escapadelas dos dandys de Lisboa com suas Lolas espanholas, no século XIX, e igualmente refúgio esporádico de outros mais recentes (José Gomes Ferreira, Mário Dionísio, Vergílio Ferreira, etc).

Há porém os publicistas e historiadores, esses sim mais perenes: do Visconde de Juromenha a João António Silva Marques, de José Alfredo Costa Azevedo a Vítor Serrão, Cardim Ribeiro, João Rodil ou Teresa Caetano, Luciano Reis, Eugénio Montoito, Samuel Vicente, Jorge Trigo, Hermínio Santos, Almeida Flôr ou Carlos Manique da Silva, a quem a investigação e estudos sintrenses muito devem, e hoje sem um espaço de divulgação permanente, depois das efémeras experiências da Vária Escrita e da Sintria. E os autores de teatro: Nuno Vicente, João de Mello Alvim, José Sabugo, Rui Mário, Rui Brás entre outros, e novos poetas, como Bruno Vitória ou Filipe Fiúza. E pintores, arquitectos, analistas sociais, criadores de multimédia, programadores e facilitadores culturais.

A divulgação destes autores, obras e eventos tem sido nos últimos anos feita de forma avulsa, descontextualizada e sem grande visibilidade por parte das entidades oficiais, ou entregue à sociedade civil, com destaque para associações como a Alagamares, ou a revista digital Selene-Culturas de Sintra. Nesse contexto, pergunta-se: e porque não ressuscitar o Instituto de Sintra, que aborde as obras e a idiossincrasia dum espaço incontornável e marcante, eventualmente em moldes diversos dos experimentados algumas décadas atrás? Falta um Espaço a este Tempo, uma tribuna, um areópago, um poiso de ideias e repositório da inteligência local, multicultural e heterogénea, unidade pela diversidade de opiniões e saberes, mas aglutinadora da sua intersecção matricial, esta Sintra que muitos cantam e a muitos desencanta. Para que, como dizia Camões, citado no início deste texto, se guardem as mágoas que lá ficam.

Enérgico nos anos 40 e 50, com Oliva Guerra, José Alfredo ou José António de Araújo, em tempos houve o Instituto de Sintra, que pela segunda vez renasceu em Maio de 1983, com António Pereira Forjaz como presidente e Francisco Costa como presidente da Assembleia Geral, e foi sob sua égide que se realizou, por exemplo, o saudoso congresso sobre o Romantismo, e desenvolveram eventos e iniciativas que não mais voltaram a ocorrer com a mesma visibilidade e pujança, tendo, por minudências políticas, vindo depois a desaparecer. Aqui fica a sugestão para a criação de um grande espaço institucional que leve às escolas, ao mundo académico e ao grande público a Sintra da Cultura, à luz da experiência e evitando os erros do passado, que utilize ferramentas do século XXI, e envolva a sociedade civil, o mundo empresarial e editorial, a escola e a academia.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Visitar Sintra grátis aos domingos


Tem vindo a Parques de Sintra-Monte da Lua a praticar uma política permissiva quanto ao acesso dos visitantes munícipes de Sintra aos domingos de manhã, iniciativa, que, sendo meritória, se tem revelado contudo insuficiente, tendo em vista a plena fruição pelos residentes dos bens culturais Património da Humanidade de que Sintra é depositária, e a dificuldade de muitos agregados familiares, jovens, sobretudo, de conhecer a sua Memória e Herança, num quadro marcado pela predominância dos visitantes estrangeiros, e por uma política de ingressos que, sendo porventura adequada, frustra os fins de plena fruição cultural para que tais espaços vão sendo recuperados.

É sabido serem os monumentos nacionais visitados em maior número por estrangeiros, os quais representaram em 2012 85% das entradas, tendo, igualmente segundo números de 2012 referentes ao todo nacional, 69% dos visitantes pago um ingresso de entrada, enquanto 31% entrou de forma gratuita, e sendo que 19% das entradas gratuitas corresponderam à categoria das visitas aos domingos e feriados.

Contudo, verifica-se que se vem a registar uma diminuição significativa dos visitantes nacionais, derivado do facto de ser exíguo o horário praticado (apenas as manhãs de domingo), quando em muitos outros espaços igualmente com elevados encargos de conservação esse horário cobre períodos mais dilatados. Cite-se o Museu do Prado, em Madrid, que abre gratuitamente de 2ª a sábado das 18h às 20h, e domingos das 17h às 20h, ou o Museu Rainha Sofia, igualmente em Madrid, que abre gratuitamente nas tardes de sábado (das 14h30m às 21h) e domingos de manhã (das 10h às 14h30m).

O direito à fruição cultural está no artigo 27º da Declaração Universal dos Direitos Humanos e nos artigos 13º e 15º do Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais. Deve pois envidar-se todos os esforços para que todas as pessoas participem na vida cultural e acedam aos bens culturais, como forma de acesso à educação e à cultura, devendo de acordo com o nº2 do artº 78º da Constituição da República Portuguesa promover-se não só a salvaguarda e a valorização do património cultural, mas torná-lo elemento vivificador da nossa identidade cultural comum, o que só uma plena fruição traduzida no acesso aos locais e sua apreensão valorativa pode garantir.

Só pode criar cultura quem fruir da cultura, e o direito de acesso aos bens culturais deve compreender o direito de acesso ao património cultural (artigo 78º, nº 1 e nº 2, alínea a), 2ª parte, e alínea b), 2ª parte, e, em especial, artigo 72º, nº 1 da Constituição). Se é certo ser a PSML uma empresa que tem de racionalizar a gestão do património e actuar em conformidade com as receitas percepcionadas, é seu desiderato enquanto fiel depositária da parte mais nobre do Património da Humanidade de Sintra potenciar igualmente estes valores e objectivos, no que a dispensa de pagamento de entradas aos residentes em Sintra durante todo o dia de domingo significaria um passo relevante nesse sentido. Sendo já uma tradição da PSML "abrir para obras", que agora "abra para todos".

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Sintra e o mundo há 100 anos





Há cem anos, em 1915, o mundo vivia em guerra. O Canal do Suez era fechado a todos os navios de países neutrais, e na Flandres os alemães usavam pela primeira vez gás em operações bélicas, enquanto na Arménia ocorria um massacre que provocou mais de milhão e meio de vítimas. Os alemães ocupavam Varsóvia e a Bulgária entrava na guerra, ao lado das potências centrais.


Entre nós, ainda a discutir a entrada na guerra, o presidente Manuel de Arriaga via-se confrontado com o Movimento das Espadas, um conflito entre oficiais do exército e o governo. No meio de greves e da escassez de pão, o horário de trabalho dos operários era fixado entre 8 a 10 horas, o dos empregados de escritório em 7 e o do comércio em 10, com intervalo de 2 horas para almoço. De de Janeiro a Maio governou Pimenta de Castro, sem aprovação do Parlamento, seguindo-se governos de João Chagas (que, alvo de um atentado, ficou gravemente ferido e cego de um olho) José de Castro, e já em Novembro, de Afonso Costa, recuperado de um traumatismo craniano provocado pela saída em andamento de um eléctrico, escapando de um atentado. Em Maio, Manuel de Arriaga demitia-se da presidência e era interinamente substituído por Teófilo Braga, até Outubro, quando o parlamento elegeu Bernardino Machado para o lugar. No plano cultural, realce para a publicação do primeiro número da revista Orpheu, fundada por Mário de Sá Carneiro, Fernando Pessoa, Almada Negreiros e Santa-Rita Pintor, e Norte Júnior, arquitecto com fortes ligações a Sintra vencia o Prémio Valmor, com o edifício com o nº 206 da Avenida da Liberdade.


Em Sintra, no início do ano, Francisco Martins presidia à comissão executiva da Câmara e em Fevereiro era inaugurado o teatro da Tuna Operária, na Estefânea. Inocêncio Camacho e Antónia Garcia de Castro constituíam a Liga dos Amigos da Praia das Maçãs, era publicado o jornal A Árvore, dirigido por António Cunha, fundada a Colónia Penal Agrícola, e construídos o chafariz da Rua Sotto Mayor e a fonte de Seteais, da autoria de José da Fonseca. As adegas Viúva Gomes, de Almoçageme, venciam o Grande Prémio da Exposição Mundial Panamá-Pacífico, e já no fim do ano, morria Carlos Sassetti, o dono da Quinta da Amizade.