Há cem anos, em 1915, o mundo vivia em guerra. O Canal do
Suez era fechado a todos os navios de países neutrais, e na Flandres os alemães
usavam pela primeira vez gás em operações bélicas, enquanto na Arménia ocorria
um massacre que provocou mais de milhão e meio de vítimas. Os alemães ocupavam
Varsóvia e a Bulgária entrava na guerra, ao lado das potências centrais.
Entre nós, ainda a discutir a entrada na guerra, o presidente
Manuel de Arriaga via-se confrontado com o Movimento das Espadas, um conflito
entre oficiais do exército e o governo. No meio de greves e da escassez de pão,
o horário de trabalho dos operários era fixado entre 8 a 10 horas, o dos
empregados de escritório em 7 e o do comércio em 10, com intervalo de 2 horas
para almoço. De de Janeiro a Maio governou Pimenta de Castro, sem aprovação do
Parlamento, seguindo-se governos de João Chagas (que, alvo de um atentado,
ficou gravemente ferido e cego de um olho) José de Castro, e já em Novembro, de
Afonso Costa, recuperado de um traumatismo craniano provocado pela saída em
andamento de um eléctrico, escapando de um atentado. Em Maio, Manuel de Arriaga
demitia-se da presidência e era interinamente substituído por Teófilo Braga,
até Outubro, quando o parlamento elegeu Bernardino Machado para o lugar. No
plano cultural, realce para a publicação do primeiro número da revista Orpheu,
fundada por Mário de Sá Carneiro, Fernando Pessoa, Almada Negreiros e
Santa-Rita Pintor, e Norte Júnior, arquitecto com fortes ligações a Sintra
vencia o Prémio Valmor, com o edifício com o nº 206 da Avenida da Liberdade.
Em Sintra, no início do ano, Francisco Martins presidia à
comissão executiva da Câmara e em Fevereiro era inaugurado o teatro da Tuna
Operária, na Estefânea. Inocêncio Camacho e Antónia Garcia de Castro constituíam
a Liga dos Amigos da Praia das Maçãs, era publicado o jornal A Árvore, dirigido
por António Cunha, fundada a Colónia Penal Agrícola, e construídos o chafariz
da Rua Sotto Mayor e a fonte de Seteais, da autoria de José da Fonseca. As
adegas Viúva Gomes, de Almoçageme, venciam o Grande Prémio da Exposição Mundial
Panamá-Pacífico, e já no fim do ano, morria Carlos Sassetti, o dono da Quinta
da Amizade.
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